Unidade 1. Sociedade e Trabalho Contemporâneo em Tempos de Epidemia/Pandemia

Vimos, nas seções anteriores, a forma como a COVID-19 impactou os aspectos sociais e econômicos. E o trabalho? Será que o mundo do trabalho foi impactado pela pandemia? Saiba Mais sobre o assunto no e-book "Prevenção e controle da COVID-19: estudo multicêntrico sobre a percepção e práticas no cotidiano das orientações médico-científicas pela população dos territórios de abrangência da Atenção Primária à Saúde“ no link: https://editora.redeunida.org.br/wp-content/uploads/2023/04/Livro-Prevencao-e-controle-da-covid-19.pdf

Com o advento da pandemia de COVID-19, o mundo, que já se encontrava em grave crise econômica e social, deparou-se com situações até então inimagináveis: na tentativa de conter o avanço do vírus, fronteiras internacionais foram fechadas, o trabalho presencial foi interrompido e populações inteiras foram colocadas em confinamento e quarentena. A circulação doméstica de pessoas foi restringida, eventos internacionais foram suspensos ou adiados, os comércios fecharam as portas, férias individuais e feriados foram antecipados e férias coletivas foram concedidas a grupos de trabalhadores, postos de trabalho foram sumariamente eliminados, os serviços de saúde ficaram sobrecarregados e até mesmo itens básicos de consumo, como alimentos, produtos de higiene e medicamentos, se tornaram muito caros ou começaram a escassear nas prateleiras de supermercados e farmácias (RAICHELIS; ARREGUI, 2021).

A nova realidade assustava – ainda assusta – e impôs uma nova forma de organização global da vida em sociedade, que causou impactos individuais e coletivos muito preocupantes do ponto de vista da saúde física e mental: a população foi gravemente afetada pela necessidade de isolamento e distanciamento de familiares e amigos, especialmente crianças e idosos, e pela perda de entes queridos para a doença, ao mesmo tempo que passou a conviver com a sobrecarga e até mesmo com o colapso dos sistemas de saúde pública e privada. As escolas e universidades fecharam as portas e o ensino presencial foi substituído por atividades remotas que causaram grande desgaste físico e mental a educadores, estudantes, cuidadores, pais e familiares. Até para ver, velar e sepultar os mortos foi necessário seguir critérios específicos de tempo e número máximo de pessoas, impedindo que esse ritual ocorresse como habitualmente ocorria e tornando o luto ainda mais difícil.

A emergência sanitária mundial causada pela pandemia de COVID-19 expôs ainda mais a crise global do capitalismo. O mundo do trabalho, que já vinha, nas últimas décadas, passando por radicais transformações sociais, organizacionais e tecnológicas que caracterizam a chamada “reestruturação produtiva” e que, mais recentemente, incorporou uma “nova morfologia do trabalho” (ANTUNES, 2018), precisou se adaptar à nova realidade que se impunha em velocidade assustadora. Obviamente esse não foi um processo fácil para a classe trabalhadora, que, como parte mais frágil na relação capital-trabalho, é quem mais sofre as consequências de tantas mudanças ao mesmo tempo.

No Brasil, a crescente desregulamentação da legislação trabalhista já vinha alterando profundamente as formas de organização, contratação, remuneração e gestão do trabalho, com o agravamento do desemprego, da pobreza e da fome, associado à fragilização das condições de trabalho, à superexploração da força de trabalho e à desproteção previdenciária aos trabalhadores e trabalhadoras, essencial em casos de afastamentos por acidentes e adoecimentos relacionados ao trabalho (ANTUNES, 2018). Porém, a pandemia explicitou e aprofundou ainda mais as desigualdades econômicas e sociais, que já eram alarmantes.

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