Unidade 4. Conceitos Básicos de Virologia e Imunologia

O controle das infecções virais envolve o diagnóstico, o tratamento e medidas preventivas. Aqui, iremos focar no diagnóstico laboratorial das viroses, que inclui diversas técnicas que permitem o isolamento do vírus ou a identificação de componentes relacionados à infecção viral como a detecção de anticorpos específicos, antígenos virais ou ácidos nucleicos virais em amostras clínicas.

4.3.4.1 Métodos moleculares

  • Isolamento e identificação do vírus

    São técnicas laboratoriais combinadas que oferecem os melhores resultados. Para o isolamento são utilizadas linhagens celulares (HeLa, HEp2, entre outras) cultivadas com a amostra biológica em meio específico que favoreça a infecção viral das células e elimine fungos e bactérias. Essa cultura celular possibilita avaliar indícios de infecção viral por meio da presença do efeito citopático (alterações morfológicas nas células), presença dos corpúsculos de inclusão, produção de antígenos virais e adsorção de hemácias. Contudo, para a identificação precisa do vírus utiliza-se a reação em cadeia da polimerase (PCR, do inglês polymerase chain reaction). Apesar de esse método ser considerado o padrão-ouro de diversas doenças virais, é uma técnica que necessita de condições especiais de elevado grau de biossegurança, disponível apenas em poucos centros de pesquisas no Brasil (RETA et al., 2020).

  • Detecção de ácido nucleico

    É um dos testes de melhor acurácia no diagnóstico de infecção ativa. De modo geral, esse ensaio laboratorial permite a detecção, por meio de dezenas de ciclos de amplificação, do ácido nucleico-alvo. O PCR é o exemplo clássico da técnica de amplificação de um ácido nucleico-alvo, amplificando cerca de 100 a 1000 pares de bases. Consiste em ciclos de desnaturação, ligação do primer (pedaços curtos de DNA de fita simples que são projetados como um gabarito, de modo que se liguem à região genética de interesse) e extensão, cada um deles em temperaturas diferentes. Os ciclos sofrem a progressão por meio de um termociclador, que controla essas temperaturas. Com esses ciclos, ocorre a amplificação do gene-alvo de tal modo que o material genético do vírus possa ser visualizado. Diferentes técnicas de PCR têm sido estudadas, sendo exemplos as técnicas denominadas PCR em tempo real. Nelas, o produto viral é detectado no mesmo momento em que ocorre a reação de cadeia. A vantagem é não necessitar de métodos de detecção (eletroforese em gel), o que diminui o tempo necessário para a conclusão do teste. Além de possibilitar o diagnóstico da infecção viral, é possível determinar a carga viral da amostra biológica.

  • Sequenciamento de nucleotídeos

    O sequenciamento de nucleotídeos é uma técnica utilizada para a detecção do vírus e de seu genoma. Pode ser feito utilizando reações cíclicas ou o pirosequenciamento. Essa técnica oferece informações que podem ser utilizadas com diversas finalidades, pois dá acesso ao genoma completo do vírus. Por meio dessa técnica, é possível identificar mutações virais de resistência a antivirais e identificar as variantes de preocupação.

4.3.4.2 Sorologias

Esse conjunto de técnicas é útil para infecção aguda ou para verificar o estado imune dos pacientes a determinados vírus. É amplamente utilizado, permite identificar anticorpos das classes IgG e IgM no soro do indivíduo e também é usado para detecção de antígenos virais em diversos materiais biológicos. De modo geral, a detecção de anticorpos IgM no soro ocorre cerca de 2 a 3 semanas após o início da infecção, e a produção de anticorpos IgG ocorre a partir dos 15 dias da infecção. A presença de antígenos virais indica infecção ativa ou recente (VERONESI; FOCACCIA, 2021).

  • Immunoblotting

    É um método que consiste na detecção de anticorpos IgG, antiproteínas de partículas virais, utilizando uma membrana de nitrocelulose. Para o preparo dessa membrana, os antígenos virais são separados por peso molecular em uma eletroforese e, em seguida, são transferidos para a membrana de nitrocelulose. A membrana é então incubada com o soro do indivíduo, e a presença de anticorpos específicos é detectada por reação imunoenzimática. A reação imunoenzimática é caracterizada pela reação que ocorre pela adição de um substrato (cromógeno e peróxido de hidrogênio – H2O2) e a enzima peroxidase conjugada a um anticorpo anti-IgM/IgG humana. Com esse método, permite-se identificar, por coloração, a presença de anticorpos específicos para diferentes alvos-virais. No diagnóstico de HIV, por exemplo, é possível identificar a presença simultânea de anticorpos IgG específicos para as proteínas virais gp 160 (HIV-1), gp 120 (HIV-1), gp 41 (HIV-1), gp 24 (HIV-1) e gp 36 (HIV-2). Com essa estratégia, o teste apresenta elevada especificidade e, portanto, é um teste confirmatório para o diagnóstico de infecção viral.
  • ELISA

    A sigla ELISA significa, em língua inglesa, Enzyme-Linked Immunosorbent Assay. No Brasil, são conhecidos como ensaios imunoenzimáticos ou ELISA. Esses ensaios possibilitam a detecção de anticorpos de diferentes classes e antígenos. Os ensaios apresentam uma fase sólida, que pode ser uma placa de plástico (poliestireno) com poços revestidos do antígeno viral. Para a detecção de anticorpos, os poços da placa são incubados com soro do indivíduo, e a presença de anticorpos específicos é revelada por reação imunoenzimática. Para a detecção de antígenos, os poços das placas são revestidos com anticorpos que se ligam a antígenos dos vírus presentes na amostra biológica. A presença desses antígenos é revelada por reação imunoenzimática.
  • Imunocromatográfico

    O teste imunocromatográfico de fluxo lateral (EIFL) é uma variante dos ensaios imunoenzimáticos. A amostra obtida é adicionada diretamente em uma membrana e levada seguindo um fluxo capilar. Os antígenos ali presentes reagem com os anticorpos específicos, sendo o anticorpo conjugado a um marcador. Quando esses compostos são identificados, uma linha é formada no teste, caracterizando o diagnóstico positivo para aquela suspeita clínica. Os resultados conseguem ser dados de maneira rápida (também conhecidos como testes rápidos), em torno de 15 a 20 minutos, e não necessitam de meios elaborados para sua realização. É uma boa técnica quando se necessita de um diagnóstico imediato.
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