Unidade 3 – Tecnologias de Trabalho na Perspectiva da Vigilância em Saúde

Ao utilizar o conceito de território na saúde, não faz sentido pensá-lo como mera delimitação de uma área. É preciso reconhecer as territorialidades que podem muitas vezes transgredir os limites e normatizações impostas por atores externos aos viventes daquela localidade. Essa territorialidade é formada pelas relações sociais (existenciais e de produção) que se estabelecem no interior dos territórios, mas também é constituída pelas relações concretas com áreas abstratas, como línguas, religiões e tecnologias.

Gondim e Monken (2008), baseados no referencial teórico de Milton Santos, consideram que as noções de território usado ou de território processo se tornam sinônimos de espaço geográfico. Eles expressam uma perspectiva dinâmica, histórica e relacional do conceito de território, que deve se constituir como campo das ações de atenção e vigilância em saúde. Esses conceitos operativos vão muito além de um simples recorte político-operacional do Sistema de Saúde, uma distribuição de unidades de saúde de acordo com dados censitários e epidemiológicos, pois consideram o território como o locus onde se verifica a interação entre população e serviços de saúde no nível local (Figura 5).

Figura 5 - O território usado e seus componentes
elaboração do autor.

Compreende-se, portanto, que o acesso e a qualidade da atenção integral, proporcionados pela rede de serviços de saúde e organizados em unidades e equipes de atenção primária, devem compreender a responsabilidade sanitária de uma população específica. Essa vinculação das equipes e unidades a um grupo de pessoas de um território pode reconhecer de maneira singular esses espaços, seus habitantes e os seus modos de vida (FARIA, 2020).

Nesse arranjo, profissionais e gestores das distintas unidades prestadoras de serviços podem ser capazes de identificar as dificuldades estruturais e conjunturais para a melhoria da qualidade de vida, as necessidades em saúde e as potencialidades desse grupo social para promover a resiliência individual e coletiva e, dessa maneira, enfrentar e superar as vulnerabilidades e condicionantes de adoecimento a que está exposto.

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