Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras Doenças Virais
A inflamação é, tradicionalmente, definida por quatro palavras do latim: calor, dor, rubor e tumor, o que reflete os efeitos das citocinas e de outros mediadores inflamatórios nos vasos sanguíneos locais.
A inflamação é iniciada quando ocorre algum dano tecidual, infeccioso ou não, e esses mediadores são liberados por células do tecido, como macrófagos e mastócitos. A morte celular do tecido agredido é percebida por essas células que liberam citocinas e outros mediadores que irão ativar as células endoteliais que compõem os vasos sanguíneos. A dilatação e o aumento da permeabilidade dos vasos sanguíneos durante a inflamação levam ao aumento do fluxo sanguíneo local e ao extravasamento de fluido para os tecidos, causando calor, rubor e inchaço. As citocinas, moléculas ativas do sistema complemento, produzem mudanças nas propriedades de adesão das células endoteliais, fazendo a adesão dos leucócitos circulantes nas células endoteliais e sua migração entre elas para o local da infecção, para onde são atraídos por outras moléculas sinalizadoras do sistema imune chamadas de quimiocinas. A migração das células para dentro dos tecidos e suas ações locais causam dor. Os principais tipos de célula presentes na fase inicial de uma resposta inflamatória são os macrófagos e neutrófilos, e grande número dos neutrófilos é recrutado para o tecido inflamado e infectado (MURPHY; WEAVER, 2016).
As moléculas responsáveis pela sinalização dos processos inflamatórios e de resposta imune são diversas, e o principal grupo desses mediadores é denominado citocinas (GERMOLEC et al., 2018). Exemplos de citocinas envolvidas na resposta imune inata e adaptativa são descritos no Quadro 2.
IL-1β | Possui função pró-inflamatória. Induz resposta imune adaptativa dos tipos Th1 e Th17. |
IL-6 | Possui função pró-inflamatória. |
TNF-α | Estimula a função microbicida de fagócitos, ativa células endoteliais e induz síntese de proteínas de fase aguda. |
INF-γ | Induz à resposta imune Th1 e aumenta a atividade microbicida dos macrófagos. |
IL-4 | Induz à resposta imune Th2, diferenciação dos linfócitos B e atua como mediador antiinflamatório. |
IL-10 | Possui função anti-inflamatória e reguladora. |
TGF-β | Possui função anti-inflamatória, reguladora e atua no processo de reparo tecidual. |
IL-17 | Possui função pró-inflamatória principalmente em mucosas. |
A inflamação de um tecido infectado tem vários efeitos benéficos no combate à infecção. Ela recruta células e moléculas da imunidade inata da circulação para os tecidos onde são necessárias para destruir o patógeno diretamente. Além disso, aumenta o fluxo de linfa contendo microrganismos e as células portadoras de antígenos para os tecidos linfoides vizinhos, onde ativam os linfócitos e iniciam a resposta imune adaptativa. Finalmente, uma vez que a resposta imune adaptativa foi ativada, a inflamação também recruta os efetores do sistema imune adaptativo, as moléculas de anticorpo e as células T efetoras para os locais de infecção (MURPHY; WEAVER, 2016).
Apesar disso, quando o organismo não consegue controlar a inflamação e ela é amplificada, o tecido e/ou órgão afetados podem evoluir para necrose extensa e deixam de funcionar adequadamente. Desse modo, o uso de drogas inflamatórias é uma estratégia terapêutica importante nos casos em que o processo inflamatório é deletério (MURPHY; WEAVER, 2016).
Assim que o patógeno é eliminado do tecido, o tecido deve ser reorganizado de modo a garantir o restabelecimento da integridade funcional. Esse processo é denominado de reparo tecidual (Figura 3). Resumidamente, observa-se (MURPHY; WEAVER, 2016):