Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras Doenças Virais
Os vírus são agentes infecciosos intracelulares obrigatórios, ou seja, necessitam da maquinaria bioquímica da célula-alvo para sintetizar proteínas e metabolizar açúcares. Infecções virais típicas são iniciadas pela ligação do vírus em receptores específicos presentes nas células do hospedeiro. Essa interação permite a entrada do vírus na célula e o início do ciclo de replicação viral, que inclui decapsidação, liberação de ácido nucleico, transcrição e produção das proteínas virais (VENTURINI; ARRUDA; SARTORI, 2017).
Além dos mecanismos inespecíficos já descritos, no caso dos vírus a resposta imune inata inclui ainda a produção da citocina IFN do tipo I (IFN-α e -β) e a ativação de células NK. Os IFN-α e -β determinam um estado antiviral nas células próximas das infectadas por indução da síntese de enzimas que degradam o RNA viral ou que inativam a síntese proteica (VENTURINI; ARRUDA; SARTORI, 2017).
À medida que a infecção viral progride, a resposta imune específica vai sendo montada. Os anticorpos combatem esse tipo de infecção por meio de vários mecanismos. Podem, por exemplo, neutralizar as partículas virais impedindo a infecção de outras células-alvo. Podem também, se estiverem no local de entrada do vírus, bloquear completamente a infecção viral; ou ainda mediar a destruição de partículas virais pela fixação do complemento (VENTURINI; ARRUDA; SARTORI, 2017).
Lembre-se de que o principal mecanismo capaz de controlar infecções virais já estabelecidas é mediado pela resposta imune adaptativa do tipo celular que elimina as células infectadas pelos vírus antes que sejam produzidas e partículas virais infecciosas liberadas. Apesar desses mecanismos imunológicos antivirais, esses patógenos dispõem de várias estratégias de evasão. Podem apresentar, por exemplo, variação antigênica por mutação ou recombinação genética e se tornarem “invisíveis” para a vigilância do sistema imunológico (VENTURINI; ARRUDA; SARTORI, 2017).
No entanto, a gravidade dessa doença ocorre pelo envolvimento deletério importante do sistema imunológico devido ao excesso da atividade inflamatória na fase inicial da doença, momento em que a imunidade adaptativa não se encontra organizada. Para a compreensão dessa gravidade é necessário identificar o papel fisiológico do receptor por onde o vírus infecta a célula, a organização do tecido pulmonar no qual ocorrem as trocas gasosas, o processo inflamatório agudo e suas consequências no contexto pulmonar (BOURGONJE et al., 2020), como descrito a seguir. São 10 etapas.