Unidade 1 – Arbovírus

O vírus mayaro é um Alphavirus com genoma RNA de fita simples positiva. Foi identificado pela primeira vez em Trindade e Tobago, em 1954, em amostra de soro de paciente sintomático (PEZZI et al., 2019). Posteriormente, o vírus se dispersou para outras regiões tropicais da América do Sul. A maioria dos casos ocorre na Guiana Francesa, Suriname, Venezuela, Peru, Bolívia e Brasil. No Brasil, a febre mayaro tem sido relatada na região da Amazônia e no estado de Mato Grosso.

O vírus, constituído de genoma tipo RNA de fita simples positivo, tem quatro genótipos: D, L, N e o recombinante D/L. No Brasil, circulam as linhagens D e L (PEZZI et al., 2019), e o vírus constitui um problema de saúde pública nas áreas rurais, devido às mudanças no ecossistema, em que é principalmente transmitido para o homem por mosquitos do gênero Haemagogus, e onde os primatas não humanos, pássaros, roedores, bicho preguiça e outros pequenos mamíferos são os principais hospedeiros. OAedes aegypti tem mostrado capacidade para se infectar em condições experimentais de laboratório, sugerindo que na região urbana o mosquito é um potencial vetor do vírus (LORENZ; RIBEIRO; CHIARAVALOTTI-NETO, 2019).

1.4.1.3.2.1 Patogênese e sintomas

Mais recentemente, no Brasil, têm sido relatados casos nos estados de Goiás e Tocantins, onde os infectados tiveram uma doença febril aguda, artralgia/artrite e rash maculopapular, associado a dor de cabeça, mialgia, dor retro-orbital, vômito e diarreia. As manifestações clínicas são difíceis de distinguir daquelas produzidas por outras arboviroses, como a dengue, zika e chikungunya (DIAGNE et al., 2020).

A artralgia nos infectados pelo vírus mayaro pode se manifestar por meses e, em alguns casos, por anos, fazendo com que a doença seja mais debilitante do que as infecções por Flavivirus, em que os sintomas se apresentam por no máximo três semanas. Após a picada pelo mosquito, o vírus se dispersa pelas vias sanguíneas, replicando-se nos monócitos e macrófagos, atingindo os ossos, músculos e articulações, até alcançar o baço e o fígado. A severidade da doença está associada à produção de citocinas pró-inflamatórias e mediadores (interleucinas, proteínas quimioatraentes de monócitos, entre outros), bem como à indução de estresse oxidativo, que está associado a respostas inflamatórias e apoptose celular (DIAGNE et al., 2020). A Figura 10 mostra o curso da viremia e da produção de anticorpos IgM/IgG após inoculação do vírus mayaro em hospedeiro susceptível e o aparecimento dos sintomas.

Figura 10 - Curso da viremia, anticorpos IgM/IgG em infectados pelo vírus mayaro
Diagne et al. (2020).

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Conheça a história da febre mayaro no Brasil

Na região amazônica, no estado do Pará, foram relatadas quatro epidemias de febre mayaro: a primeira em 1955, em comunidade próxima ao Rio Guamá; a segunda em 1978, em Belterra; a terceira no ano de 1981, em Conceição do Araguaia; e a quarta em 1991, em Benevides. Em 1987, o vírus foi responsável por surtos em Goiás, e, em 1991, foi detectado no Tocantins. Em 2000, o vírus foi isolado em turistas que viajaram à cidade de Camapuã, Mato Grosso do Sul. Entre 2014 e 2015, nove estados brasileiros reportaram casos suspeitos.

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