Unidade 2 – Vigilância Das Doenças Transmissíveis

Segundo o Guia de Vigilância em Saúde (BRASIL, 2019a), a dengue é uma:

Doença febril aguda, sistêmica e dinâmica, que pode apresentar um amplo espectro clínico, variando de casos assintomáticos a graves. No curso da doença – em geral debilitante e autolimitada –, a maioria dos pacientes apresenta evolução clínica benigna e se recupera. No entanto, uma parte pode evoluir para formas graves, inclusive óbitos (BRASIL, 2021d, p. 691).

Apesar de não ter havido grandes mudanças no espectro clínico de dengue, as definições de caso foram revistas em 2014, com base em um estudo internacional do qual o Brasil fez parte. O principal objetivo da mudança foi aproximar as definições de caso utilizadas pela assistência das definições utilizadas pela vigilância e chamar a atenção para o principal fator de gravidade, que na verdade é o choque hipovolêmico, que pode levar à hospitalização e óbito, e não o sangramento.

Nos casos de dengue, antes de se tornarem graves, é usual o aparecimento dos sinais de alarme. Na presença desses sinais, é indicado que se retorne ao serviço de saúde para que a pessoa fique em observação e receba os cuidados necessários.

OS PRINCIPAIS SINAIS DE ALARME SÃO (BRASIL, 2021d):

  • Dor abdominal intensa (referida ou à palpação) e contínua;
  • Vômitos persistentes;
  • Acúmulo de líquidos (ascite, derrame pleural e derrame pericárdico);
  • Hipotensão postural e/ou lipotimia;
  • Letargia e/ou irritabilidade;
  • Hepatomegalia maior do que 2 cm abaixo do rebordo costal;
  • Sangramento de mucosa;
  • Aumento progressivo do hematócrito.

Lipotimia: sensação de desmaio iminente. O indivíduo se sente prestes a desmaiar, sem perda de consciência. Pode vir seguida de outros sinais e sintomas, como palidez, tontura, suor, sensação de vista escura, enjoos, entre outros.

Hepatomegalia: aumento do fígado.

Existem particularidades nas manifestações clínicas de dengue nos extremos de idade, que são as crianças e os idosos. Crianças podem apresentar sintomas inespecíficos, o que pode dificultar o diagnóstico, e o quadro grave pode se instalar sem que se percebam os sinais de alarme.

Para efeitos de notificação, as definições de caso de dengue adotadas pelo Ministério da Saúde do Brasil são descritas a seguir.

  • 2.3.1.1 Caso suspeito de dengue

    Caso suspeito de dengue é o indivíduo que reside em área onde se registram casos de dengue ou indivíduo que tenha viajado nos últimos 14 dias para área com ocorrência de transmissão ou presença de Aedes aegypti. Esse indivíduo deve apresentar febre, usualmente por 2 a 7 dias, e duas ou mais das seguintes manifestações:

    • • Náusea/vômitos;
    • • Exantema;
    • • Mialgia/artralgia;
    • • Cefaleia/dor retro-orbital;
    • • Petéquias/prova do laço positiva;
    • • Leucopenia.

    Também pode ser considerado um caso suspeito de dengue a criança proveniente de (ou residente em) área com transmissão de dengue que apresente quadro febril agudo por usualmente entre 2 e 7 dias e não tenha sinais e sintomas indicativos de outra doença.

  • 2.3.1.2 Caso suspeito de dengue com sinais de alarme

    Os casos suspeitos de dengue com sinais de alarme são os casos que, no período de defervescência da febre, apresentam um ou mais sinais de alarme.

  • 2.3.1.3 Caso suspeito de dengue grave

    O caso suspeito de dengue grave é todo caso que apresenta uma ou mais das seguintes condições:

    • • Choque ou desconforto respiratório em virtude do extravasamento grave de plasma;
    • • Choque evidenciado por taquicardia;
    • • Pulso débil ou indetectável;
    • • Taquicardia;
    • • Extremidades frias e tempo de perfusão capilar > 2 segundos;
    • • Pressão diferencial convergente 1000 do sistema nervoso central (alteração da consciência), do coração (miocardite) ou de outros órgãos;
    • • Sangramento grave segundo a avaliação do medico;
    • • Comprometimento grave de órgãos, por exemplo: dano hepático importante, do sistema nervoso central (alteração da consciência), do coração (miocardite) ou de outros órgãos.

    Independentemente da classificação do caso de dengue, dengue com sinais de alarme ou dengue grave, os casos suspeitos podem ser confirmados por critério laboratorial ou clínico-epidemiológico. Para a aplicação desses critérios, também existem orientações específicas, conforme descreveremos a seguir.

  • 2.3.1.4 Caso de dengue confirmado por critério laboratorial

    O caso de dengue confirmado por critério laboratorial é aquele que atende à definição de caso suspeito de dengue e que foi confirmado por um ou mais dos seguintes testes laboratoriais e seus respectivos resultados:

    • • ELISA NS1 reagente;
    • • Isolamento viral positivo;
    • • RT-PCR detectável (até o 5º dia de início de sintomas da doença);
    • • Detecção de anticorpos IgM ELISA (a partir do 6º dia do início dos sintomas da doença);
    • • Aumento de ≥ 4 (quatro) vezes nos títulos de anticorpos no PRNT ou teste IH utilizando amostras pareadas (fase aguda e convalescente).
  • 2.3.1.5 Caso de dengue confirmado por critério clínico-epidemiológico

    O caso de dengue confirmado por critério clínico-epidemiológico deve considerar o vínculo epidemiológico com um caso confirmado laboratorialmente e a situação epidemiológica local, após avaliação da distribuição espaçotemporal dos casos confirmados. Em geral, pode ser utilizado em momentos epidêmicos. O Ministério da Saúde recomenda que não se utilize o critério clínico-epidemiológico para confirmação de casos em gestantes, casos graves e óbitos, e estimula que esses casos sejam exaustivamente investigados.

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