Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras Doenças Virais
Devido à importância do uso dos diagramas de controle na detecção de epidemias, faremos uma discussão específica sobre sua interpretação e sua utilidade para o acionamento dos planos de contingência.
O diagrama de controle é uma representação gráfica elaborada com base em uma série histórica de casos, excluindo, para isso, os anos epidêmicos. Com base na série histórica calcula-se a média móvel semanal de casos, e o limite superior corresponde à média móvel mais 1,96 desvio padrão da média, obtendo-se assim o canal endêmico.
Uma vez elaborado o canal endêmico, os casos do ano devem ser inseridos no gráfico e atualizados semanalmente, ou diariamente, para permitir o acompanhamento da curva. Os valores compreendidos abaixo do limite superior correspondem ao nível endêmico da doença, ou seja, o limite de variação esperada para cada semana, quando os casos excedem o limite superior e o aumento se mantém no tempo, está caracterizada a epidemia.
O diagrama vai sinalizar não só quando o município entrou em epidemia, mas também quando a doença retornou para níveis endêmicos.
Nas Diretrizes Nacionais para a Prevenção e Controle de
Epidemias de Dengue (BRASIL, 2009), há um exemplo e o passo
a passo para elaboração de diagramas.
Clique aqui para acessar.
A seguir podemos observar a utilização do diagrama para acionar diferentes níveis de alerta do Plano de Contingência. Cada local deve ter seu próprio Plano de Contingência, mas usando como exemplo o Plano de Contingência Nacional para Epidemias de Dengue (BRASIL, 2015a). Para acionar o plano, quatro níveis de resposta foram propostos (Figura 26).
Nos níveis zero e um, observe que os casos (linha pontilhada) ainda não ultrapassam o limite superior (linha vermelha), no entanto, no nível 1, a tendência de aumento semanal já pode ser identificada. Para o nível zero é recomendado que a vigilância analise o coeficiente de incidência, identifique o sorotipo circulante e trabalhe na captura de rumores que possam antecipar a detecção do aumento de casos por meio dos sistemas oficiais.
Já no nível 1, além do coeficiente de incidência, deve-se monitorar atentamente a notificação de óbitos ou casos graves.
O nível 2 é acionado quando o número de casos notificados ou o coeficiente de incidência ultrapassam o limite máximo esperado, com transmissão sustentada e/ou quando for detectado aglomerado de óbitos suspeitos de dengue.
No nível 3, os indicadores são o coeficiente de incidência e número de casos de óbitos. O número de casos notificados ultrapassa o limite máximo com transmissão sustentada de acordo com o diagrama de controle por pelo menos 4 semanas, e a letalidade apresenta tendência de aumento.
Embora o enfoque da unidade tenha sido na vigilância das principais arboviroses, em vários momentos podemos perceber sua interface com os outros atores nas ações de controle vetorial e na assistência. As análises realizadas pela vigilância permitem identificar áreas e grupos de maior risco para adoecimento e óbito, mudanças no padrão de ocorrência e orientação da resposta em momentos epidêmicos, funcionando como uma carta de navegação para o acionamento de outros atores e medidas de controle.
Os indicadores operacionais também devem ser acompanhados. Eles podem ser calculados com o auxílio do software Epi Info e oferecem uma noção sobre a qualidade da vigilância. A seguir poderemos ver como os principais indicadores operacionais podem ser calculados e como devem ser interpretados.
A oportunidade de notificação corresponde ao produto da diferença entre a data de notificação e a data de início dos sintomas. Permite identificar quanto tempo, em média, as pessoas demoram a buscar atendimento e pode auxiliar, por exemplo, na análise dos casos graves e óbitos e levantar e verificar hipóteses sobre se a busca tardia por atendimento médico pode ser um dos fatores que contribuem para a letalidade.
A oportunidade de digitação corresponde ao produto da diferença entre a data de digitação e a data de notificação. A mediana ou a média de tempo que os casos demoram para ser digitados, e inseridos os dados da ficha de investigação, de fato no sistema de informação, pode afetar todas as análises e, por consequência, a adoção de medidas de controle para evitar epidemia, uma vez que pode levar a subestimação da situação epidemiológica local. Não é incomum que os casos só reflitam a realidade da transmissão após várias semanas da notificação, em decorrência do atraso da digitação.
A oportunidade de encerramento dos casos corresponde ao produto da diferença entre a data de encerramento e a data de notificação. Reflete a capacidade da vigilância e, em muitos casos, da capacidade laboratorial no processamento dos testes específicos para auxiliar no encerramento dos casos. O prazo para encerramento de agravos agudos no SINAN é de até 60 dias. Ultrapassado esse prazo, o encerramento é considerado inoportuno e revela os desafios da vigilância em concluir a investigação obtendo dados mais fidedignos.
O cálculo da oportunidade de encerramento dos óbitos não difere do que acabamos de discutir, pois não existe uma variável específica de data de investigação do óbito. Apesar disso, é esperado que os óbitos sejam investigados e encerrados com prioridade em relação aos casos notificados em geral.
Alguns óbitos são encerrados tardiamente em razão da dependência de resultados de imuno-histoquímica de histopatológicos, pois esses exames, em geral, são realizados em laboratórios de referência nacional, que atendem à demanda de diversos estados.