Programa Educacional em Vigilância e Cuidado em Saúde no Enfrentamento da COVID-19 e de outras Doenças Virais
Usuários com arboviroses podem apresentar choque secundário à disfunção miocárdica ou sepse. Esses usuários devem receber tratamentos específicos. Para eles, deve ser obrigatória a solicitação de exames inespecíficos, como hemograma completo, RX de tórax, coagulograma, bioquímica (U/ C/ Na/ K/ GLI/ AST/ ALT/ Albumina/ Bilirrubinas/ FALC/ GGT), e outros a critério médico. Deve-se conduzir a hidratação venosa imediata (adultos e crianças), reposição volêmica (SF 20 ml/kg em 20 minutos), reavaliar e, se melhorar, iniciar a fase de manutenção.
Caso não seja identificada melhora clínica, repetir a reposição volêmica até 3 vezes (sempre reavaliando pressão arterial, ausculta pulmonar e hematócrito). No caso de resposta inadequada, (caracterizada pela persistência do choque), deve-se avaliar e, se o hematócrito estiver em ascensão após a reposição volêmica adequada, utilizar expansores colóides. Se o hematócrito estiver em queda e houver persistência do choque, devem ser investigadas hemorragias e avaliadas a coagulação.
Na presença de hemorragia, corrigir coagulopatia e transfundir concentrado de hemácias. Na ausência de hemorragias, pensar em disfunção miocárdica e avaliar uso de inotrópicos. Por exigirem cuidados especializados e intensivos, esses usuários devem ser atendidos em unidades de internação. Assim como os usuários do grupo B e C, eles poderão receber alta do acompanhamento ao apresentarem hematócrito normal e estável, ausência de febre; estarem hemodinamicamente estável por 48 horas e apresentarem melhora clínica; e terem plaquetas acima de 50.000 e em ascensão.
Devem ser investigados também sinais de gravidade associados à lesão de órgãos-alvo como sinais de acometimento neurológico: dor de cabeça intensa e persistente, sinais meníngeos, crises convulsivas, déficit de força muscular e outros sinais focais; sinais de comprometimento cardíaco: dor torácica, arritmias ou insuficiência cardíaca; sinais de comprometimento cardíaco ou pulmonar: dispneia, desconforto respiratório; sinais de comprometimento renal: diminuição da diurese e/ou aumento de ureia e creatinina e sinais de descompensação de qualquer doença de base. Nesses casos, a conduta deve ser a internação para tratamento e hidratação individualizada.
Com outra forma de organizar os processos de trabalho das equipes de saúde, por tipo de atenção à saúde em que presta cuidados, podemos sintetizar as principais atividades das unidades de saúde como segue.
Saiba mais acessando o Fluxograma da Classificação de Risco e Manejo com o Paciente com Dengue (BRASIL, 2021) no sítio eletrônico: clique aqui para acessar
É importante que o profissional de saúde conheça os três níveis de atenção (primária, secundária e terciária) e a especificidade de cada atuação nos casos de arboviroses (Quadro 1).
O protocolo anteriormente descrito é bem específico para tratar usuários com dengue, entendendo que a hidratação precoce previne mortes. Portanto, a orientação é de que, nos primeiros dias da infecção, momento em que os sintomas e sinais da doença são inespecíficos, é importante manejar como um caso de dengue.
Com o avançar das fases clínicas e maior suspeição ou confirmação da chikungunya, o protocolo deve modificar para o manejo adequado desses usuários. Na infecção pelo vírus chikungunya (CHIKV), existe a necessidade de uma abordagem eficaz no controle da dor visando, inclusive, diminuir o tempo de doença clínica (BRASIL, 2017).
É importante que se tenha uma ferramenta que permita a aferição da dor, transformando um dado subjetivo em um dado objetivo que permita avaliar e conduzir adequadamente o caso. Existem várias ferramentas validadas para uso, no entanto a Escala Visual Analógica (EVA) (Figura 2) é uma das mais simples e pode ser aplicada por qualquer profissional de saúde.
Recomenda-se, na fase aguda, a utilização de compressas frias como medida analgésica nas articulações acometidas de 4 em 4 horas por 20 minutos. É necessário estimular a hidratação oral dos usuários (2 litros no período de 24 horas), que começa na unidade de saúde. Há evidências de que o repouso é fator protetor para evitar evolução para fase pós-aguda, sendo de extrema importância. Orientar os usuários sobre a doença, suas fases, a possibilidade da persistência dos danos articulares, dos riscos da automedicação, dos sinais associados à gravidade e dos cuidados no domicílio.
Na infecção por zika, para o controle da febre e manejo da dor é recomendado o uso de paracetamol ou dipirona. Anti-histamínicos podem ser considerados no caso de erupções pruriginosas.
A demonstração de que o vírus zika em gestantes leva à microcefalia nos neonatos escreveu um novo capítulo da história da medicina, surgindo novos conceitos e riscos relacionados a infecções congênitas, até então inexistentes. A atenção à gestante com infecção pelo zika é fundamental. De acordo com o protocolo, ela deve ser acompanhada no pré-natal de baixo risco, mas o seguimento deve incluir o suporte multiprofissional, por ser uma condição que irá gerar uma grande carga emocional. É fundamental informar à mãe e sua família que a confirmação de infecção pelo vírus zika nesse período não é sinônimo da presença da Síndrome Congênita por Zika no concepto. Os exames que devem ser solicitados são aqueles indicados no pré-natal, além dos exames específicos para confirmação de infecção pelo ZIKV (BRASIL, 2017).
A confirmação da infecção pelo vírus zika ou a presença de microcefalia no concepto não são indicações para parto cesariana, devendo-se indicar o parto normal e proporcionar condições para o parto humanizado, de acordo com as diretrizes vigentes. Todos os bebês com confirmação de microcefalia devem manter as consultas de Puericultura na APS e ser encaminhados para estimulação precoce com fisioterapeuta, objetivando reduzir o atraso do desenvolvimento neuropsicomotor (DNPM). Algumas crianças poderão apresentar dificuldade de sucção e de coordenação sucção/deglutição. Caso seja constatado comprometimento de funções, deverá ser realizado acompanhamento em ambulatórios de especialidades.
Dessa forma, todo caso de arbovirose, ainda durante a suspeição, deve ser notificado no momento da consulta que normalmente acontece na APS. Essa ação permite que medidas oportunas de prevenção e controle do adoecimento sejam instauradas pelas equipes de vigilância em saúde.
Seguem sugestões de cursos EAD sobre manejo clínico dessas arboviroses: