Unidade 3 – Vigilância e Controle de Vetores

A caracterização entomológica é o conjunto de informações relativas ao vetor, como sua distribuição geográfica, índices de infestação e depósitos predominantes. Deve ser constantemente atualizada para nortear as ações de controle, podendo ser realizada por meio de coleta de ovos, larvas, pupas ou mosquitos adultos em armadilhas, pesquisas ou levantamentos de índices.

  • Armadilhas de oviposição (ovitrampas)

    A utilização de armadilhas de oviposição (ovitrampas) (Figura 24) é um método sensível e econômico para detectar a presença do vetor. As armadilhas são depósitos de plástico na cor preta com capacidade aproximada de 500 ml que contêm uma palheta de Eucatex para as oviposições e podem utilizar infusão de feno ou solução de levedo de cerveja como substâncias atraentes para as fêmeas. Exigem inspeção semanal para a substituição das palhetas e aporte laboratorial para análise do material coletado. Apresentam alta sensibilidade na detecção precoce de infestações e eficácia na vigilância entomológica de áreas de baixa infestação, de áreas estratégicas como portos e aeroportos, de áreas de maior risco de transmissão de arboviroses, ou mesmo em todo o território de municípios. São úteis ainda na avaliação de impacto das aplicações espaciais de inseticidas e nas avaliações de eficácia das novas ferramentas para controle vetorial em estudo.

    Figura 24 - Armadilha de oviposição (ovitrampa)
    Raquel Portugal. Acervo da Fundação Oswaldo Cruz.

    De acordo com as DNPCED, a distribuição de ovitrampas deve atender à proporção mínima de uma armadilha para cada nove quarteirões, uma para cada 225 imóveis, ou, ainda, a instalação de armadilhas com 300 metros de distância de uma para outra.

    Os índices geralmente utilizados para estimar a infestação de Aedes aegypti, baseados na presença de ovos em armadilhas, são os seguintes:

    Índice de Posividade de Ovo (IPO) - indica a porcentagem de armadilhas positivas
    Índice de Densidade de Ovo (IDO) - indica o número médio de ovos por armadilha positiva

    Saiba mais sobre ovitrampas

    Você pode conhecer detalhadamente o preparo, instalação e a manutenção das ovitrampas assistindo ao vídeo Metodologia para coleta de ovos Aedes aegypti, no canal do Instituto Oswaldo Cruz na plataforma YouTube, disponível aqui.

  • Armadilhas larvitrampas

    De acordo com as DNPCED, as larvitrampas são depósitos geralmente feitos de secções transversais de pneus utilizadas para a detecção precoce da introdução do vetor em locais estratégicos, como portos fluviais ou marítimos, aeroportos, terminais rodoviários, ferroviários, de passageiros e de carga. Não devem ser instaladas onde existem outras opções de desova para a fêmea, como é o caso dos pontos estratégicos. Assim como no caso das ovitrampas, a inspeção das larvitrampas deve ser realizada semanalmente, e, para que não se transformem em focos geradores de mosquitos, a detecção de larvas deve desencadear ações imediatas para eliminação do vetor nesses locais.

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  • Armadilhas para captura de adultos

    Diferentes tipos de armadilha para a captura de mosquitos adultos têm sido desenvolvidos, com ou sem atraentes sintéticos. Entretanto, ainda se desconhece a relação entre o número de adultos coletados e o número de adultos existentes no meio ambiente, limitação que dificulta a utilização de um índice que reflita fielmente uma situação de risco para a ocorrência da transmissão de arboviroses. Além disso, os resultados dos estudos realizados até o momento não foram considerados como evidências de que estas armadilhas atuem como supressoras das populações de mosquitos, portanto novos estudos devem continuar sendo estimulados.

    Por essas razões, as armadilhas para captura de adultos ainda não foram preconizadas para vigilância entomológica de Aedes aegypti na rotina ou como ferramentas de controle vetorial. Assim como ocorre com as armadilhas de oviposição, tais armadilhas têm sido ocasionalmente utilizadas na avaliação de impacto das aplicações espaciais de inseticidas e nas avaliações de eficácia das novas ferramentas para controle vetorial em estudo.

    Saiba mais sobre as armadilhas para vigilância de Aedes aegypti

    Estudo coordenado pela Fiocruz e pelo MS avaliou armadilhas para vigilância do Aedes aegypti, com o objetivo de investigar sua eficiência na quantificação de índices de infestação, sua relação custo-benefício e sua pertinência para implementação na rotina de campo, no âmbito do SUS. Foram comparadas várias armadilhas disponíveis no mercado com potencial de estimar a população adulta de Aedes aegypti (Adultrap®, MosquiTRAP® e BG-Sentinel®, armadilhas de captura de fêmeas adultas, além das ovitrampas, que são armadilhas de oviposição).

    A ovitrampa foi a armadilha mais sensível e específica do estudo, além de a de menor custo. Contudo, apresenta desvantagens, como o tempo gasto para contar os ovos e a necessidade de eclodi-los para obter informação das espécies. Todas as armadilhas apresentaram desempenho superior aos índices larvários, sob vários aspectos. Constatou-se, contudo, que em nenhum caso armadilhas são independentes do trabalho dos agentes. A adoção de qualquer armadilha na rotina da vigilância entomológica depende de capacitação prévia e avaliação continuada dos profissionais.

    Convidamos o trabalhador estudante a conhecer mais sobre esse estudo e seus resultados na Nota Técnica N.º 3/2014/IOC-FIOCRUZ/DIRETORIA (BRASIL, 2014b) sobre a avaliação de armadilhas para a vigilância entomológica de Aedes aegypti com vistas à elaboração de novos índices de infestação.

    Além do uso das armadilhas, outro método disponível para a caracterização da presença de mosquitos Aedes aegypti em uma determinada área é a pesquisa larvária. Vamos compreender melhor do que se trata?

  • Pesquisa larvária

    A pesquisa larvária consiste na inspeção de formas imaturas (larvas e pupas) em todos os depósitos de imóveis visitados e coleta e envio desse material para o laboratório para análise e geração de indicadores. A pesquisa larvária objetiva a estratificação das áreas de risco entomológico, o monitoramento das ações de controle realizadas e a avaliação de metodologias de controle em estudo. A inspeção é realizada em uma amostragem de imóveis, que difere segundo a metodologia adotada. Foram preconizados pelo MS dois tipos de pesquisa larvária: o Levantamento de Índice Amostral (LIA) e o Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa).

  • Levantamento de Índice Amostral (LIA)

    O LIA é um levantamento larvário realizado em uma amostragem sistemática de imóveis do município, de modo a apresentar significância estatística. É geralmente realizado em localidades pequenas, uma vez que, para aquelas com mais de 8100 imóveis, é recomendada a realização do LIRAa.

    Amostra de imóveis para o Levantamento de Índice Amostral

    Número de imóveis da localidade Amostra para pesquisa
    Até 400 100% dos imóveis
    401 a 1.500 33% dos imóveis ou 1/3 dos imóveis
    1.501 a 5.000 20% dos imóveis ou 1/5 dos imóveis
    Mais de 5.000 10% dos imóveis ou 1/10 dos imóveis
    Fonte: Brasil (2009).
  • Levantamento de Índice Rápido para Aedes aegypti (LIRAa)

    O LIRAa foi desenvolvido para a obtenção de indicadores entomológicos de maneira rápida. É realizado em municípios de maior porte, nos quais pode ser difícil utilizar o método de amostragem sistemática devido às limitações de tempo, de recursos financeiros e operacionais, e permite priorizar e selecionar ações de controle para áreas de maior risco dentro do município. Os índices entomológicos estimados indicam a situação da infestação de formas imaturas e os tipos de recipiente predominantes em cada estrato monitorado dentro da localidade.

    Índice de infestação Predial (IIP)

    O IIP é a relação expressa em porcentagem entre o número de imóveis positivos e o número de imóveis pesquisados.

    Índice de Tipo de Recipientes (ITR)

    O ITR indica a proporção de recipientes positivos por tipo de criadouro.

    Índice de Breteau (IB)

    O IB expresso em números absolutos, estabelece uma relação entre recipientes positivos e imóveis e, embora forneça mais informações, não aponta dados sobre a produtividade dos depósitos.

    Em localidades com um mínimo de 8100 imóveis, inicialmente é feita sua estratificação por conglomerados (cada estrato deve apresentar de 8100 a 12.000 imóveis que tenham características socioambientais semelhantes), e são sorteados os quarteirões (unidade primária de amostragem) a serem visitados dentro de cada estrato. Posteriormente, nova amostragem é realizada para definir o percentual de imóveis (unidade secundária de amostragem) a serem visitados dentro de cada quarteirão. O processo de amostragem é realizado com auxílio de um software, que ao final do levantamento calcula os indicadores para cada estrato e os indicadores para o município. Previamente à sua realização, é necessária elaboração ou atualização do reconhecimento geográfico da área a ser trabalhada.

    A inspeção dos imóveis da área urbana do município é realizada nas casas e nos terrenos baldios. Nos prédios verticais, deverá ser inspecionado somente o térreo de toda a área comum do edifício. Os pontos estratégicos (cemitérios, borracharias, depósitos de sucata, depósitos de materiais de construção, etc.) não são incluídos na amostra.

    Depósito ou criadouro é todo recipiente utilizado para finalidade específica que armazene ou possa vir a armazenar água, seja pela ação da chuva, seja pela ação do homem, e que esteja acessível à fêmea do Aedes aegypti para postura dos seus ovos. Os depósitos foram classificados em cinco grupos (Figuras 25 e 26): Grupo A – depósitos para armazenamento de água; Grupo B – depósitos móveis; Grupo C – depósitos fixos; Grupo D – depósitos passíveis de remoção; Grupo E – depósitos naturais.

    Figura 25 - Classificação e ações indicadas sobre criadouros do Aedes aegypti
    adaptado Brasil (2013).
    Figura 26 - Criadouros de Aedes aegypti, por tipo
    Rondon Vellozo (BRASIL, 2013).

    Durante o levantamento, as larvas são coletadas e o tipo de recipiente em que se encontravam é registrado. O cálculo do percentual de cada tipo de recipiente em relação ao total de recipientes (indicador ITR) permite o direcionamento de medidas de controle específicas, como o recolhimento de pneumáticos, a cobertura de depósitos de água com capas ou a intensificação de coleta de inservíveis. As ações de comunicação e mobilização social também podem ser mais direcionadas para os tipos de recipiente mais encontrados naqueles municípios.

    O índice entomológico mais utilizado estimado com base no LIRAa é o IIP, que representa o percentual de imóveis com criadouros do Aedes aegypti em uma localidade. Segundo o MS, um IIP maior que 3,9% indica a existência de risco aumentado para a ocorrência de epidemias de dengue. Os índices de infestação são indicadores bastante utilizados na definição de áreas prioritárias para intensificação de ações de controle vetorial dentro de um município.

    Os índices de infestação predial por Aedes aegypti são classificados, de acordo com o risco, em:

    Saiba mais

    Alguns estudos não encontraram correlação positiva entre o IIP e os casos de dengue, ou seja, nem sempre localidades com alta transmissão apresentaram alto IIP, ou o contrário. É importante considerar que a confiabilidade dos indicadores estimados por meio do LIRAa é dependente da qualidade do trabalho da equipe envolvida. É necessário que realizem inspeção criteriosa em busca de criadouros, análise laboratorial adequada do material coletado, além de registro fidedigno dos dados nos boletins e no sistema.

    Você pode aprender mais sobre o LIRAa no manual Levantamento rápido de índices para Aedes aegypti – LIRAa para vigilância entomológica do Aedes aegypti no Brasil: metodologia para avaliação dos índices de Breteau e Predial e tipo de recipientes (BRASIL, 2013).

    Para refletir

    Você acredita que, na localidade em que você trabalha, as ações de controle vetorial são orientadas pelos resultados do monitoramento entomológico?

    Consegue compreender as vantagens da realização do monitoramento entomológico?

    Quando bem-feito, ele pode auxiliar na definição das áreas em que é necessária a intensificação das ações de controle, ou avaliar se o que já foi executado trouxe bons resultados. É interessante que a comunidade conheça os resultados do monitoramento entomológico de sua localidade, pois isso pode auxiliar na compreensão das pessoas a respeito da necessidade de manutenção dos ambientes livres de criadouros e motivar a transformação do conhecimento em práticas.

    Depois de compreendermos melhor as ações preconizadas pelo MS para a vigilância entomológica do Aedes aegypti, vamos conhecer um pouco sobre o controle de focos do mosquito e também do vetor alado (mosquito adulto).

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